quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Super 8 - TEMPO






    No final de julho, fui convidado pela organização do festival de curtas em super-8 de Curitiba, o Curta 8, a fazer um filme desafio. Com um rolinho de 3 minutos, rodar um filme que se montaria na própria câmera, dentro de um prazo determinado e enviar pra eles.
    Aceitei o desafio. Estava terminando uma jornada pesada de meses de trabalho. Meses fazendo 2 ou 3 trabalhos ao mesmo tempo, sem finais de semana, sem folga. Eu iria fazer o tal filme super 8 nas minhas férias que teria em breve. Tive várias idéias mirabolantes, mas resolvi fazer um filme afetivo.
    Encontrei a foto acima na casa da minha mãe, em Ribeirão Preto. É uma foto que me remete a memórias de infância, na chácara da minha avó. Sempre achei que as imagens na nossa memória (ao menos da minha) são meio desenquadradas. Foi em cima dessa idéia que filmei o Trópico das Cabras. Essa foto acima mexeu muito comigo. É a tradução perfeita do que acredito ser a memória, e ainda tem essa estranheza de ter duas réplicas menores no lado esquerdo.
    Parti dessa foto para construir o filme que chamei de TEMPO. Inclui a foto no filme e fui ao parque da Água Branca em São Paulo, que tem um jeitão bem rural, que sempre me desperta essas memórias da minha infância. Filmei quase todos os planos lá, com excessão do primeiro plano, que filmei no meu apartamento, na minha cozinha, com Marina tirando roupas do varal ao fundo. Editei o som com trechos de filmes que me marcaram e com a intenção de homenagear Chris Marker, que havia morrido há pouco. Construi o som com trechos de La Jetée e Sem Sol de Chris Marker, O céu que nos protege de Bertolucci, Nouvelle Vague do Godard, O Espelho e O Sacrifício de Tarkosvski. E mais uma música cantada por Vicente Celestino, Noite cheia de estrelas.
    Todas essas referências sonoras são, sem dúvida, parte da minha memória afetiva. O céu que nos protege foi o filme que me despertou para um cinema além do entretenimento, quando eu tinha 14 ou 15 anos. Tempos depois, percebi que as imagens que filmei não eram a minha memória, mas sim a memória que está se construindo na cabeça do meu filho, Nuno, de 1 ano e 5 meses. Ele adora passear no parque da Água Branca, ver os bichos, as árvores. A primeira imagem do filme é a mãe dele tirando roupas do varal. Descobri que a imagem de TEMPO são as primeiras memórias afetivas do Nuno. Eu filmei essas imagens como se ele as olhasse. E fiz isso inconscientemente. O som é composto de memórias minhas, portanto, criei um diálogo entre essas duas memórias afetivas. De um homem de 36 anos e do seu filho de um ano e cinco meses.
    TEMPO é isso. TEMPO estréia neste sábado, 6 de outubro de 2012 em Curitiba. Felizmente, estarei lá para presenciar. Não vi sequer um fotograma do filme revelado. Vou descobrir lá o que a película deixou persistir como fragmentos de memória. Espero que esteja bonito.


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